Anda pr'aí muito boa gente a apregoar o perigo dos esquerdistas radicais do Syriza e dos "contos de crianças" dos perdões e renegociações de dívida. Gente que acha mais real ceder aos caprichos dos mercados e dos multimilionários credores que, com muita engenharia financeira à mistura diga-se de passagem, nos mantêm reféns dessa mesma dívida através de intermináveis taxas de juro do que travar o empobrecimento das populações e a degradação dos serviços sociais nos seus próprios países. Tudo boa gente decerto, mas acima de tudo gente que, quase que aposto, não ganha o ordenado mínimo e tem obviamente de justificar a sua "essencial" posição no organograma social. Mais do que isso, tem que defender, com unhas e dentes, a própria existência da sua profissão. Apresentam-se como comentadores, consultores, analistas, especialistas, etc. Mas comentam muito pouco, e erradamente porque desconhecem a realidade, para consultar são mais falíveis do que a Wikipedia, na análise confrangedoramente ignorantes e são especialmente especializados em coisa nenhuma. Provavelmente gerariam mais valor e ajudariam mais a economia a cavar batatas do que alguma vez farão com patéticos bitaites a piscar o olho aos futuros, ou actuais, patrões.
A todos estes iluminados fica o convite: Desçam à Terra, e depois desçam mais uns degraus, onde quem quer realidade pode regalar-se, encher a barriguinha, porque ela está em toda a parte. E não, não vou falar em África ou na América Latina, porque é aqui mesmo, na Europa que esta realidade acontece, nos países dos mesmos excelentíssimos académicos e tecnocratas bem remunerados. Por onde querem começar? Por essas aldeias afora, neste Portugal que não é certamente uma estória de encantar há meninas adolescentes a viver maritalmente com senhores que podiam ser seus avôs, por puro instinto de sobrevivência. Os estimados senhores especialistas não conhecem? Compreende-se, o mais certo é nunca se terem cruzado nos hotéis de 5 estrelas e nos restaurantes gourmet onde almoçam. Chega para começar?
Ai a realidade, essa coisa linda para os analistas que chama à razão os preguiçosos e irresponsaveis que vivem à conta do Estado como, também numa dessas aldeias lusitanas, uma senhora que conheci à esmola para comer porque a pensão se ia nos medicamentos. A pensão miserável de uma vida de trabalho, uma vida a descontar para o Estado. Tu queres lá ver que os senhores analistas desconhecem que nós é que sustentamos o Estado e não o contrário?Sim, os almoços, as viagens em primeira classe, os carros com motorista, as exorbitantes ajudas de custo, tudo isso sai do nosso bolso e sem ele (o bolso do povo) essa cambada de subsidiados a que chamamos de políticos nem para estacionar carros teria capacidade. Pois, mas aos especialistas isto passa-lhes ao lado. Talvez porque não seja o seu caso e tenham mais a beneficiar do que a perder com os fraudulentos negócios feitos com o nosso dinheiro.
Mas e, nem de propósito, voltando à tão ultimamente apregoada realidade, qual é o consultor que me explica em que gráfico ou estatística enquadro um adolescente, heterossexual, que, uma vez por semana, sodomiza um homem casado em troca de dinheiro para ajudar a pagar as contas de casa? Alguém quer tentar?
Ai a realidade, a real e não a outra, a morder os calcanhares a essa gente indigesta. E eles a falarem burguês fluentemente, como quem percebe da coisa, afinal sempre são especialistas em algo, a analisar a economia entre um jogo de ténis e um jantar de marisco.
Paguem-se as dívidas, paguem-se os jactos privados, paguem-se as rinoplastias e os anéis de diamantes.
Pague-se este Mundo e o outro que um dia as realidades encontrar-se-ão. E haverá contas por ajustar.