Antes de mais e para fazer uma breve introdução ao assunto e pôr as coisas em perspectiva vamos olhar para o quadro geral.
1- Temos uma sociedade que não investe nada em mecanismos que favoreçam a igualdade social, sem falar em raças atenção, apenas em equilibrar a riqueza entre pessoas que vivem no mesmo tempo e espaço.
2- As forças de segurança não têm formação adequada e os processos de selecção devem ter parado no tempo porque continuamos a ter nas ruas agentes sem preparação, física, psicológica, cultural, etc. Já todos nos deparámos com polícias que nos surpreenderam pela positiva, por uma ou outra razão, mas não são, infelizmente, a regra mas sim a excepção. Sem esquecer obviamente que a culpa é de quem os forma e põe nas ruas.
3- A publicidade, que está por toda a parte, é cada vez mais agressiva a criar necessidades aos consumidores (esta marca de ténis, aquela marca de roupa, etc.). Procura atingir deliberadamente, porque é o seu objectivo, as camadas da população mais impulsivas, que agem mais do que o que pensam, como os mais jovens e os mais velhos. (A legislação desta actividade é demasiado permissiva a meu ver.)
3- As marcas sabem a força que têm junto dos jovens e praticam preços excessivos, mesmo depois de mudarem as suas fábricas para países onde a mão de obra é 10 vezes mais barata, como a Índia e o Vietname por exemplo. Um par de ténis da Nike, por exemplo o modelo Air Max (made in Vietname) custam entre 100 e 250 Euros, ou seja chegam a custar metade de um ordenado mínimo português.
4- Se ligarmos a nossa TV e passarmos 10 minutos a ver a MTV passam-nos pelos olhos milhões de Euros em diamantes, ouro, carros topo de gama e champanhe, tudo enfeitado com muito brilho e glamour. Os gangsters mauzões passaram a heróis, exemplos de sucesso, cidadãos modelo.
5- Digam o que disserem Portugal continua a ser um país onde predomina uma mentalidadezinha racista, mais camuflada hoje em dia, talvez porque "parece mal ser racista" e somos um povo de aparências, mas entre portas continua o preconceito e a discriminação.
6- Seis banqueiros afundaram o país, estão a esta hora sossegadinhos da vida a desfrutarem das suas fortunas. Meia dúzia, quase os dedos de uma mão, qual a cor?
Bem posto isto posso passar ao que me interessa dizer acerca dos meets, que ainda não faço ideia do que são mas se a ideia é sair das redes sociais e dar provas da sua existência na rua e em locais públicos parece-me que os putos estão muito à frente. Se há quem se aproveite disso para lançar o caos, roubar e armar confusão uma das seis razões acima enumeradas pode ajudar a explicá-lo.
Eu bem sei que, principalmente na Grande Lisboa, existe um fenómeno que nos pode levar a ter sentimentos contraditórios em relação a outras raças, nomeadamente aos africanos. Sei-o melhor que ninguém porque, apesar de morar no Algarve, venho de Queluz, bem no meio da Linha de Sintra. O que acontece é que de vez em quando damos de caras com grupos de putos (e não só) nascidos e criados em Portugal, que nunca puseram um pé em África sequer, cujos próprios pais renegam as suas atitudes, muitas vezes racistas. Agem covardemente em matilhas, roubam e espancam, não são pretos estúpidos mas apenas estúpidos. Não podemos tomar o todo pela parte, nem todos os brancos são banqueiros.
Para finalizar deixo duas pequenas situações, entre muitas outras, que se passaram comigo e me fizeram repensar se realmente devia olhar para além da cor da pele, continuo a pensar que sim.
Uma bela vez em Lisboa, passagem de ano (não me lembro qual, foi assim tão boa), bela ideia passar o ano na capital, eramos putos, uns quantos ainda. Fomos assaltados três vezes na mesma noite, fenomenal, e mais umas tentativas que foram acontecendo mas a gente ás tantas já só dizia "tou limpo não tenho nada" enquanto mostravamos o avesso dos bolsos das calças para confirmar.
Outra linda e maravilhosa noite em Lisboa fui para os copos, com uma espectacular t-shirt com a imagem de um punho a quebrar uma cruz suástica e tive a bela ideia de passar à porta de um bar de skins que havia na 24 de Julho. Escusado será dizer que se não tivesse uma cabeça dura e pernas para correr tinha saído dali com muito mais do que uma t-shirt rasgada, uns gajos da mesma raça do que eu. Mesmo assim fui para os copos, e mais tarde ainda fui assaltado por uns dreads, de uma das raças que eu tentava ajudar a integrar com a minha singela t-shirt.
Alguns dos meus, mais que amigos, irmãos são negros. Se eu passar a barreira da cor vejo-lhes todas as qualidades e defeitos de qualquer outro ser humano.