terça-feira, 9 de junho de 2015

Insistir na insistência

Ora bem, hoje trago um enigminha,  que é  algo que está a meio caminho entre um enigma e uma adivinha, não chegando nunca a ser um ou o outro, mas sim ambos ao mesmo tempo.
Reza assim: Certo dia de um mês de Agosto, Sam Cream Puff Silva, um político sério, nascido na Nova Jérsia mas filho de pais lusitanos, veio visitar Portugal. Acontece que, no meio de um daqueles arraiais de Verão, o senhor teve um treco e bateu as botas. Onde é que foi enterrado o corpo, em Portugal ou nos States?
E, sem mais demoras, vou revelando de imediato a resposta porque eu não tenho tempo para estas coisas (ou se calhar até tenho mas isso agora não interessa nada) e sei que vocês também não. Então aqui vai, preparados? Meus caros, político sério é mito urbano. É coisa de que a gente ouve falar, mas nunca viu nem sabe se existe.

quarta-feira, 25 de março de 2015

3,14

Na minha sala não há álbuns de fotografias nem memórias nas gavetas, na minha cabeça  não pretendo manter vivas as recordações de coisas passadas. Porque recordar não é viver. Viver é viver, recordar é outra coisa mais insonsa. Nada contra, idiossincrasias apenas, caracteristicas individualizadas do foro individual do individuo.
Tudo isto para dizer que ando com um papel na carteira há mais de vinte anos, quer dizer, na realidade são dois papeis, mas o outro pode dizer-se que é mais pragmático e profiláctico do que poético.
Obrigado por não teres permitido que me tornasse um puto estúpido e por consequência um adulto fútil.
Cá te espero.

domingo, 22 de março de 2015

Para saberes que eu sei

Hoje sei as lições que nenhuma escola me poderia ter ensinado.
Sei que as pessoas não se medem aos palmos. Que não se baixa a cabeça quando se está certo, mas sim se enche o peito e se enfrenta quem quer que seja, o que quer que seja.
Hoje sei. Sei que o amor apazigua as diferenças e as crenças que nos dividem e nos faz aceitar o que outrora nos parecia intolerável.
Hoje sei que é possível dar mais de nós, ficar com menos e mesmo assim sair a ganhar. Sei que, por muito que a vida nos faça, só a nós nos cabe fazermo-nos à vida.
De tanto que eu não sei, hoje sei tanto mais porque todos os dias são dias da mulher. Todos os dias são dias da mãe. E que de nós seria se assim não fosse?

domingo, 8 de março de 2015

Corrente de ar

Não é sequer uma ventania, e muito menos o furacão que se pretende. Hoje em dia as redes sociais e a internet aproximam-nos de quem pensa fora da caixa, ajudando a criar a ilusão de que existe contestação ao poder instituído mas, na realidade, não passa de uma tímida, apesar de louvável, corrente de ar. Que persiste é certo, resiliente e resistente como nos tempos em que se distribuíam panfletos pelos becos e ruelas de Lisboa denunciando as dúbias  intenções de banqueiros e das multinacionais corporações, alertando para os perigos da industrialização e intensificação da agro-pecuária e das continuadas agressões ao ambiente.
Pois, parece que ainda não vai ser desta, mesmo com as fraudes confirmadas, com a corrupção à vista de todos, com provas evidentes do favorecimento de uns em detrimento de outros, mesmo com tudo isto a inação grassa. Talvez daqui por mais vinte anos, ou duzentos. O importante é persistir, denunciar, não permitir o esquecimento e nunca desistir.

domingo, 1 de março de 2015

Não se pode perder o que nunca se teve

No caso do excelentíssimo senhor doutor primeiro ministro Pedro Passos Coelho a dignidade, que nunca foi sequer beliscada (porque certamente não existe) pelas imposições  da troika, e a vergonha.
Há quem fique marreco de tanto trabalhar e quem o fique de tanto se curvar para lamber botas.
Então não é que o senhor "temos-que-pagar-custe-o-que-custar" decidiu não pagar deliberadamente à segurança social e, mais grave ainda, nem sequer foi notificado, como acontece com tantos outros portugueses, certamente sem filiação partidária. Como é aliás o meu caso, desempregado e tantas vezes mal empregado (raios que se me está a fugir a caneta para a dignidade, mas isto já me passa), que recentemente fui notificado pela S.S. para devolver um mês de subsídio de desemprego recebido por engano, num processo mediado (com extrema competência certamente) pelo IEFP em que fui selecionado para estágio (com 37 anos de vida e 7 como profissional na minha área) numa empresa de telecomunicações. Estágio esse mal pago e com prazo de validade, como se sabe. Convém ressalvar a eficácia e celeridade com que esta notificação me chegou, em menos de um mês com ameaça de execução fiscal e tudo. Além disso fui recentemente informado da obrigação de comparecer em ações de formação em horário pós-laboral. Ora eu, técnico de telecomunicações e às vezes jardineiro, posso optar entre coisas tão diversas como técnico de frio, rendas de bilros (infelizmente acho que este não me foi proposto), recepcionista de hotel, pastelaria. Ou inglês,  quando domino a língua inglesa melhor do que a maior parte dos formadores (lá me está a caneta a deslizar para a dignidade). Poderia um cidadão trabalhador, que cumpre as suas obrigações para com o estado, pai há coisa de dois meses, ser ainda mais humilhado? Dêem-me corda que eu bato palminhas e dou cambalhotas por 600 euros ao mês.
Bem, voltando ao Pedro "temos-que-honrar-os-compromissos" Coelho acresce á displicência com que contornou as suas obrigações o facto de todos os cargos de direcção nos centros de segurança social estarem entregues a militantes do mesmo partido do doutor "os-políticos-não-são-todos-iguais". Coincidências (ver  isto). Para elevar a trapalhada a patamares ainda mais altos de ridícula e afrontosa prepotência apareceu o próprio do ministro da (in)segurança social a desacreditar completamente todos os funcionários do seu ministério apenas para tentar salvar o chefe.
Nada disto é novo, e muito menos exclusivo do PSD. É o resultado de mais de quarenta anos de bipartidarismo (com o PP à boleia por vezes) oportunista e irresponsável. Um país desvalorizado de gente acomodada à humilhação.
Podemos continuar assim? Podemos. E vamos continuar assim? Claro que vamos, porque não se perde o que não se tem.


notazinha: eu não me importo que governem, decidam e essas outras coisas que os excelentíssimos senhores políticos fazem por mim, porque me facilita bastante a vida não ter de tomar decisões importantes. Digamos que a maior parte do meu tempo é dedicada a ser explorado por um patrão rico e o pouco que me sobra prefiro gastá-lo com coisas que não me aborreçam o juízo.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A dívida não é para se pagar.Repito. A dívida não é para se pagar.

Não tenham ilusões. O que vamos negociando, renegociando e pagando são juros da dívida, ad eternum, sem fim à vista.
As dívidas saldadas retirariam todo o poder de influência dos credores sobre os governos e, por consequência, sobre as nações e deixariam de poder escolher fantoches que levassem avante políticas de desintegração social como as que temos, que apenas servem os grandes. Com as dívidas pagas certamente não veríamos a tia Merkel, ou qualquer outro que não nos apareça no boletim de voto, a puxar as orelhas a meio mundo como se tivesse autoridade para tal.
 O empréstimo forçado que é táctica habitual do FMI não é diferente do que alguns métodos de extorsão utilizados por outras organizações mafiosas. Os planos de recuperação económica através da austeridade têm-se provado um fracasso em todas as frentes. A pouco expressiva recuperação alcançada no caso português deu-se à conta do aumento da carga fiscal e da redução de apoios sociais aos mais desfavorecidos, para além disso prevê-se de curta duração.  
Ao mesmo tempo não se avançam reformas estruturantes e radicais aos sistemas político, judicial, social e financeiro. 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Um Charlie deu-me block no Twitter

O engraçado é que só comecei a seguir porque pensei que era comédia, e da boa, daquela sarcástica e pungente ao estilo de um Bruno Nogueira, mas mais baixinho (a vários níveis), daquele tipo de humor em que se dizem as maiores enormidades mas se consegue manter um tom sério enquanto se o faz.
É que nem cheguei sequer a dizer-lhe realmente o que queria dizer-lhe, e agora também já não me apetece. A única coisa que lhe pedi, depois de ler um dos seus espirituosos tweets referindo-se ao governo grego, que passo a traduzir uma vez que o nosso Secretário de Estado dos Assuntos Europeus escreve em americano: "A politica europeia simplesmente não funciona através do confronto aberto", foi que não me fizesse rir porque eu estava com cieiro, o que até  era verdade, e todos sabem como pode ser das poucas situações em que um sorriso se pode tornar desconfortável, uma vez que repuxa a pele quebradiça dos lábios e chega até a causar dor por vezes.
Mais tarde descobri que ele estava a falar a sério quando tweetou o seguinte acerca da governação nacional: "Também provámos que é possível ter crescimento económico e, ao mesmo tempo, uma significante consolidação fiscal", e chorei pela parte dos meus impostos cujo destino é pagar-lhe o ordenado. O que vale é que já não há de ser por muito mais tempo.
Eu devia ter desconfiado pela expressão jubilosa e convicta