quarta-feira, 25 de maio de 2011

bate-me à porta

alguém pode fazer o favor de me coçar aqui as costas? tenho aqui uma crise que me dá uma comichão que me apanha o lado direito todinho. aliás não é bem a crise em si que me está a pôr os nervos em franja. é mais aquela ideia, imposta e forjada diria eu, de democracia justa, igualitária, de direitos e deveres que me venderam porque para mim podíamos muito bem estar no burkina faso ou no cazaquistão que a diferença não seria muita. ainda mais me enerva o facto de ter comprado esta ideia, esta volátil teoria de que existe uma escolha, uma opção, uma eleição de indivíduos por outros indivíduos para defender interesses comuns a todos. só que parece que afinal uns têm mais interesse do que outros, ou em comum têm o interesse de encher as suas, e apenas as suas próprias barrigas. pode ser que rebentem um dia. mas até lá vou(aliás vamos,nós os nossos filhos e provavelmente os nossos netos) continuar a pagar a conta dos estragos, o que é chato e ligeiramente, como dizer, inconveniente e nada democrático.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ás vezes á noitinha

um dia acordou mas não deu por isso e saiu para a rua só de pantufas...de manhã pela fresquinha.
e lá seguiu, subtil, silencioso como convém. pensou em ir colher trufas mas como era curioso como ninguém ficou-se por uma esquina onde uma multidão se juntava á volta de uma zebra que tinha caído ao escorregar numa casca de banana.
"banana" dizia um velho enquanto acenava com a cabeça, "tanta coisa á boa vida e o meu canário no fundo de desemprego" dizia outro. e depois de um longo silêncio desatavam os dois á gargalhada.depois de uns minutos disto e tendo já observado e avaliado com toda a sua curiosidade aquele incomum acidente decidiu seguir para a loja de animais para comprar comida para o bobi, o seu único amigo como gostava de lhe chamar, um camarão amestrado que trouxera de moçambique em tempos idos que vão e não voltam e giram e giram e tornam a girar tanto mais que até tivera um dia de comprar comprimidos para o enjoo para aqueles dias em que era atingido por um fluxo anormal de recordações. não era fácil a vida de josé, analfabeto de pai e mãe, coxo de um olho, surdo de um pé, trabalhava desde os seis (meses) para sustentar os 34 irmãos, um mar de rosas diriam muitos, mas nem por isso, apesar de ás vezes do tudo se fazer bastante e de não haver mal que bata duas vezes á mesma porta errada. e foi assim que um dia josé se fez á estrada, só com a sua guitarra e o incansável companheiro de todas as horas bobi,sem esperanças nem expectativas mas com a certeza de que tudo o que corre é água mole e que não há pedra que dure para sempre...

maionese

dei por mim a pensar (o que já de si é raro e tantas vezes inútil) nestas coisas do céu e do inferno, de deus e do diabo e enrolei-me tanto que quando acabei estava prontinho para me juntar á irmandade das trevas (ou coisa parecida se existisse). passo a desenvolver:
se eu acreditasse em deus?
1- teria de acreditar que não passamos de cabeças de gado, caso contrário porque raio poriam um pastor a tomar conta de tudo isto?
2- que só por acaso é filho do patrão, típico!
3- ora bem, qualquer pessoa (ou individuo, como quiserem) com dois palmos de testa consegue perceber que o sujeito é incompetente, ou, sendo filho do patrão, completamente irresponsável, típico! e é aqui que começo a notar um padrão, que me traz até um inicio de urticaria, será que o senhor é português?
4- teria de crer no diabo que, a julgar pelos tempos que correm, a existir estaria na mó de cima
5- sem filhos (pelo menos que se conheçam) para pôr no poleiro
6- com estes argumentos aliados á suspeita de que o filho do outro poderia ser português eu estava já a sacar do eyeliner e do verniz preto e a ouvir slaughtering dead people dos black darkness (não vale a pena googlar, foi completamente inventado).
7- não esquecendo que o belzebu sabe como aliciar a freguesia, se eu acreditasse, acreditava que seria melhor deus pôr-se a pau ou então a população de adoradores das trevas iria atingir os píncaros. afinal quem quer saber de hóstias e vinho tinto quando pode ter champanhe e cocaína.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

bananas

genuinamente descontente com a situação procurava urgente solução quando nela tropeçou ao subir a rua apressado; não fosse um aperto no peito e tinha-lhe passado ao lado.

nunca satisfeito pesava-lhe a ausência de tudo o que nunca seria, e entretanto seguia, impaciente …

e nessa impaciência algo em si permanecia, um resto de salada enfiado num dente. que o incomodava já desde a semana passada,até nem estava má, podia ainda sentir o sabor da rúcula e do cominho. resolveu o assunto com um pouco de gasolina e um fósforo e seguiu caminho.

caminhava á sua maneira, apesar dos danos, permanentes, um dia escorregou e caiu de boca, engoliu uma rua inteira, meia dúzia de semáforos, uma loira que cantava “loca loca” e uns quantos transeuntes.