sábado, 31 de janeiro de 2015

O Syriza no topo do bolo

Era um trocadilho a pedir para acontecer, um pouco estúpido talvez, eu sei disso mas, não consegui evitar, era impossível deixar passar a oportunidade.
Concorde-se ou não, acredite-se ou não na sua capacidade de levar o seu programa avante, o Syriza é um, muito benvindo pela parte que me toca, vento de mudança nesta Europa bolorenta e estagnada em que nos encontramos. Quanto mais não seja é um primeiro passo para o surgimento de novos intervenientes na ação política que não sejam políticos convencionais, um rasgar com os interesses instituídos e o facciosismo partidário. Uma das primeiras lições, alvo de críticas, foi a coligação com um partido de direita, mostrando que não se pode ser cego na política como se é, por exemplo, no futebol. Para encontrar consensos, que é o que se pretende na política (ou não?), é preciso estar aberto ao diálogo  com todas as partes. Esta foi a lição n°1 de Tsipras, apenas há uma hora no cargo. Cavaco poderia ter tomado notas mas não se dá bem com teorias contrárias à sua, mesmo que estejam certas. E nós por cá sabemos bem demais os bons resultados que isso tem tido.
A lição n°2 chegou pouco depois, pela mão de Varoufakis, um ministro pouco convencional, cujo maior medo é transformar-se num político, que anunciou que a renegociação da dívida é para avançar,  tal como o Syriza prometera (quase desenvolvi um aneurisma porque não estou habituado a ver cumpridas promessas eleitorais, ainda mais na primeira semana de mandato). A cereja no topo da cereja da intervenção de Varoufakis? Exigir que FMI, BCE e Comissão Europeia fiquem fora das negociações, que serão encetadas diretamente com os credores.
Como é óbvio, e como têm vindo a avisar todos contentes, e com razão, alguns comentadores da nossa praça, que eu desconfio que aufiram rendimentos superiores à média, todas estas boas intenções serão absorvidas por aquilo a que se chama, erradamente a meu ver, realpolitik, uma vez que a política real é a dos interesses financeiros e partidários e não a pragmática e prática que se pretende para combater a degradação das condições de vida dos cidadãos e dos serviços sociais e o constante empobrecimento.
Uma coisa é certa, o primeiro passo está dado, foram os gregos que o deram na pátria da democracia, e essa é a maior lição de todas. É possível dizer não à resignação, ao sentido de inevitabilidade, ao "não há nada a fazer". E, no meio de tudo isto, ainda desejar uma boa noite á Sra. Merkel. 


domingo, 25 de janeiro de 2015

O atleta e o homem

O atleta é fora de série, sublime, o exemplo perfeito de como o talento é requisito menor quando existe trabalho. Um jogador mediano na melhor das hipóteses, se comparado por exemplo com Diego Maradona, um viciado em cocaína com um metro e meio, que fazia acontecer  magia quando tinha a bola nos pés, verdadeira magia, daquela que não se treina nem se aperfeiçoa com cálculos matemáticos e probabilidades estatísticas. Digamos que Diego era um poeta e Cristiano, do alto do seu metro e noventa, é um tecnocrata. Repetição após repetição, os movimentos são robóticos e mecanizados, treinados até à exaustão. Mesmo assim, não há nada que se possa apontar que lhe tire o mérito de ter chegado, a pulso, ao topo do futebol mundial.
O homem é arrogante e auto-indulgente, capaz de, há  uns dias atrás, fazer declarações como "é impossível ajudar toda a gente", coisa que até pode ser verdade, mas que vinda da boca de alguém que tem milhões só em carros e que um dia ofereceu relógios de 10000 euros a todos os colegas de equipa para comemorar um qualquer acontecimentozinho na sua vida, pode soar um pouco mal. Até porque a triste frase deixa perceber que para ele nunca pareceu impossível um puto ranhoso com carinha de rato, da ilha da Madeira,  chegar um dia a ganhar 3 Bolas de Ouro, ter uma enorme massa feminina a querer deitar-lhe o dente, inclusivamente super-modelos russas, e a ser um dos atletas mais bem pagos do seu tempo. Um poço de humildade o rapazito, mas ele faz-se, só tem de treinar.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Das liberdades

No Dia Mundial da Liberdade, do qual só ouvi falar hoje mesmo, e numa altura em que se debate a liberdade de expressão, nada melhor do que deixar  as caricaturas de um grande português,  que nunca deixou de se exprimir, traduzirem o que me vai na alma quando a Europa se prepara mais uma vez para ceder aos Bancos Centrais. Com mínimas repercussões para a maioria das famílias que vão continuar a ser mal remuneradas pelo seu trabalho, sobrecarregadas de taxas pelos seus Estados e a ver os preços dos bens a subir, como de costume. E, como de costume, a liberdade continua longe.




Keep on keeping on

Batem leve levemente
como quem chama por mim
será chuva será gente
gente não é certamente
e a chuva não bate assim
fui ver, era um politico, não abri.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Só para te calar a boca

Lombinho de porco no forno com mel, tomilho e rosmaninho. A acompanhar batata doce e abóbora. Para o cozinheiro um gin, sem mariquices, com meio limão cortado lá para dentro com a faca do alho.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Duas ou três coisas acerca da paternidade

Porque será que quando uma pessoa não tem filhos toda a gente fala de como é lindo e inexplicável ser pai mas depois, quando lhes contamos que vamos realmente ser pais rasga-se-lhes nos lábios um sorrizinho maléfico e um brilhozinho assustador nos olhos. Tipo, um gajo pega no telefone liga para aquele amigo que estava sempre a contar as peripécias dos seus pequenos rebentos e diz: Puto (sim, gajo que é gajo há-de ter 80 anos e continuar a tratar os amigos por puto), vou ser pai. E a resposta do outro que tinha uns anjinhos em casa e tal é: Agora é  que tu vais ver o que é  não dormir.
Ora, isto não é nada meus amigos, era antes que tinham de ter avisado. Antes. Porque depois não adianta grande coisa, até leva uma pessoa a pensar se não foi atraído para uma elaborada armadilha. Mas a coisa piora, a verdade é que esta espécie de profecia/praga acaba, por mais estranho que pareça, por se concretizar. A princesinha mais linda do seu papá, que sou eu(o papá, não a princesinha), poderia, sem qualquer problema, dar formação a qualquer polícia secreta do Mundo na área das técnicas de privação de sono. O choro é agudo, estridente, o lábiozinho treme em desespero, mais depressa diríamos não à Angela Merkel.
Outro fenómeno que acontece é que começamos a ver tudo com outros olhos e a valorizar coisas como, como é que eu hei de dizer isto, cócó. O significado das coisas altera-se e o cócó rapidamente se transforma no salvador das noites perdidas, o exterminador implacável das indizíveis cólicas.
Para mim, que pensava que era só trocar as pilhas de vez em quando e mandar para a lavandaria uma vez por semana, é um pouco demais para assimilar em tão pouco tempo, e a princesa ainda não fez um mês, por isso antevejo tempos atribulados por aqui. Mas com muito cócó se tudo correr bem.

sábado, 10 de janeiro de 2015

A insuportável leveza do ser

Se o Gustavo Santos fosse um electrodoméstico, nas suas especificações poderia ler-se: equipado com musculatura bem definida, óleo para bezuntar  incluído, cérebro não disponível nesta versão.
Levei um pouco de tempo a decidir se iria, na minha primeira intervenção, escrever, ou não, sobre este não-assunto, uma vez que o que se pretende essencialmente, pelo que eu percebi, neste blog é pensar globalmente e não individualmente e, como todos sabemos, o Gustavo é o auge do ego em chamas ardentes de desejo por si próprio.
Vamos então aqui desmontar o Gustavo Santos, e quem quiser que o monte mais tarde. Acontece que o Gustavo é fruto de uma corrente de pensamento, se é que podemos chamar-lhe assim, uma degeneração da evolução num sentido estranho e aterrador que por alguma razão baseia a nossa existência no facto de nos contentarmos com o reflexo que nos é devolvido pelo espelho e em novos conceitos artificiais e superficiais de beleza. Obviamente não há nada de errado em gostarmos de nós próprios, é até essencial à nossa existência que assim seja, mas daí até nos confundirmos com o astro-Sol da nossa pequena galáxia vai uma distânciazita, digo eu que não percebo nada de astronomia. Pois bem, o Gustavo é  um homem de sucesso segundo estes novos parâmetros, inclusivamente autor de best-sellers, apesar de o significado de sucesso estar hoje em dia também ele próprio adulterado. E isso é que é preocupante. O Gustavo em si é perfeitamente inócuo e inofensivo, um pateta feliz arriscaria mesmo dizer, que como todos nós tem de fazer pela vida, e que parece safar-se bem melhor do que eu, por exemplo. Um tipo que nos poderia ofender por vezes, se realmente tivesse noção do que diz, mas não tem. Os seus textos são iguais a si próprio, limpos, sarados, sem gorduras, com dentes muito brancos, e vazios de conteúdo, um babuíno com encefalite não faria pior.
Para mim, devíamos olhar para o Gustavo como aquilo que é e não nos ofendermos tanto com as suas imbecilidades, apesar de, verdade seja dita, ele se pôr a jeito.
Mas afinal que raio é que ele é? Habituado como está a decoração de interiores e remodelaçõezinhas só pode ser um qualquer objecto decorativo, que fica bem em qualquer sala, perfeito para ficar em cima do pechiché ou do criado mudo, ótimo para fazer vista para as visitas mas, no fundo, inútil.

nota: O título deste texto esteve para ser "A máquina de fazer Gustavos" mas, plágio por plágio, ficou assim. Desde já agradeço e retribuo o convite para opinar em casa alheia e poder participar na "corrente". 

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Porque eu sou Charlie todos os dias

A caneta é mais forte que a AK
A caneta é coragem, a AK cobardia.
A caneta liberta, a AK constringe.
A caneta é directa, a AK camuflada.
A caneta é viagem, a AK o fim da linha.
A caneta é voz, a AK silêncio atroz.
A caneta derruba muros, a AK ergue barreiras.
E onde houver canetas nunca existirão fronteiras.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Ano Novo, vícios antigos

Pois bem, parece que temos aqui um ano prontinho a estrear, só que já  cheira a mofo, traz bolor agarrado. Bolor acumulado com velhos hábitos enrustidos que apenas servem a ganância de alguns iluminados.
Ainda nem o ano tinha acabado ficámos a saber que neste novo ano uma boa parte da Amazónia seria pertença de algumas petrolíferas chinesas (e não, isto não é uma piada, por mais surreal que possa parecer), quando semanas antes se reúniam Cimeiras em nome do ambiente e se saudavam os acordos e os esforços aí assumidos. Quando já  era mais do que tempo de acabarmos com a nossa dependência de combustíveis fósseis, responsáveis em grande parte pelas acentuadas alterações climáticas dos últimos 50 anos, através do uso de energias alternativas, que existem e se provaram eficientes, cedemos uma parte do apelidado pulmão da Terra para seguirmos precisamente no sentido oposto.
Neste mesmo novo ano que entra, fresquinho que nem uma alface, um ano que será, mais uma vez, complicado certamente para a maioria das famílias, a Audi, fabricante de automóveis de alta gama, e alto consumo de combustíveis fósseis, mais poluentes, anunciou um investimento de umas boas dezenas de milhares de milhões de Euros para melhorar a sua posição no ranking de vendas. Ou seja, os bancos vão continuar a emprestar-nos dinheiro para comprarmos carros alemães e ficar bem vistos perante a vizinhança  nos nossos topos de gama. Mais do mesmo portanto. E escusado será dizer que pouco ou nenhum desse investimento será usado no desenvolvimento de automóveis  híbridos ou elétricos, o que junto com a negociata das terras amazónicas deixa antever a tendência dos "mercados" (leia-se gajos ricos) para o novo ano. E anteriores e futuros. Continuar a espremer e explorar o planeta até ao último tostão entrar nas suas obesas contas bancárias.
O ano até pode ser novo, mas já vem todo cheio de mossas.