Era um trocadilho a pedir para acontecer, um pouco estúpido talvez, eu sei disso mas, não consegui evitar, era impossível deixar passar a oportunidade.
Concorde-se ou não, acredite-se ou não na sua capacidade de levar o seu programa avante, o Syriza é um, muito benvindo pela parte que me toca, vento de mudança nesta Europa bolorenta e estagnada em que nos encontramos. Quanto mais não seja é um primeiro passo para o surgimento de novos intervenientes na ação política que não sejam políticos convencionais, um rasgar com os interesses instituídos e o facciosismo partidário. Uma das primeiras lições, alvo de críticas, foi a coligação com um partido de direita, mostrando que não se pode ser cego na política como se é, por exemplo, no futebol. Para encontrar consensos, que é o que se pretende na política (ou não?), é preciso estar aberto ao diálogo com todas as partes. Esta foi a lição n°1 de Tsipras, apenas há uma hora no cargo. Cavaco poderia ter tomado notas mas não se dá bem com teorias contrárias à sua, mesmo que estejam certas. E nós por cá sabemos bem demais os bons resultados que isso tem tido.
A lição n°2 chegou pouco depois, pela mão de Varoufakis, um ministro pouco convencional, cujo maior medo é transformar-se num político, que anunciou que a renegociação da dívida é para avançar, tal como o Syriza prometera (quase desenvolvi um aneurisma porque não estou habituado a ver cumpridas promessas eleitorais, ainda mais na primeira semana de mandato). A cereja no topo da cereja da intervenção de Varoufakis? Exigir que FMI, BCE e Comissão Europeia fiquem fora das negociações, que serão encetadas diretamente com os credores.
Como é óbvio, e como têm vindo a avisar todos contentes, e com razão, alguns comentadores da nossa praça, que eu desconfio que aufiram rendimentos superiores à média, todas estas boas intenções serão absorvidas por aquilo a que se chama, erradamente a meu ver, realpolitik, uma vez que a política real é a dos interesses financeiros e partidários e não a pragmática e prática que se pretende para combater a degradação das condições de vida dos cidadãos e dos serviços sociais e o constante empobrecimento.
Uma coisa é certa, o primeiro passo está dado, foram os gregos que o deram na pátria da democracia, e essa é a maior lição de todas. É possível dizer não à resignação, ao sentido de inevitabilidade, ao "não há nada a fazer". E, no meio de tudo isto, ainda desejar uma boa noite á Sra. Merkel.