nota introdutória (uau): não se oferecem soluções, apesar de por vezes a solução estar na não repetição de um erro. apenas testemunhos e pensamentos na primeira pessoa. quem procura direções é comprar um gps ou ir ao google maps.
Aos 37 anos estava perfeitamente acomodado, moldado ao meu sofá e acoplado ao comando da televisão. Feliz com o emprego em que quase pago para trabalhar mas mesmo assim é melhor do que estar desempregado. A chama insubmissa e revolucionária da adolescência deixei-a numa gaveta distante fechada a sete chaves, todas elas atiradas para bem longe junto com todas as questões sem resposta que apenas perturbam o meu bem estar e me impedem de curtir os meus dois dias sem grandes chatices e inconvenientes. Como pensar, questionar, agir e todas essas coisas que se metem no caminho da minha diversão. Lutar pela vida pode ser muito bonito mas traz dores nas costas, rugas, inquietações e até rasgos de loucura por vezes. Ainda para mais quando temos de trabalhar ao mesmo tempo. Resumindo, um aborrecimento.
Nada que me interessasse, até há uns meses atrás em que a Sara decidiu acabar com o meu sossego, liderando uma revolução contra o meu comodismo ao escolher nascer daqui a um par de meses. Fui assolado, em catadupa, por tudo o que me indignava neste desequilibrado Mundo. A gaveta arrombara-se a si própria, rendida às evidências. Se quisermos um futuro vamos ter de nos mexer no presente era a frase que ecoava na minha cabeça. Porque, afinal, teria eu mudado assim tanto nos meus ideais, ou teriam os motivos da minha revolta mudado nestes últimos vinte anos? Na realidade nem uma coisa nem outra, continuo a acreditar que podemos fazer melhor e partilhar os recursos existentes e não açambarcá-los, e se algo mudou naquilo que me faz questionar foi para pior. Por isso não faz sentido deixar de ser quem sou porque eu sou o produto do meio que me rodeia.
Todo este processo de reconexão comigo próprio acabou por trazer-me a recordação de alguém com quem tive a honra de poder partilhar ideias pessoalmente algures nos meados dos anos 90, num 1° andar perto do Bairro Alto apinhado até ao tecto em livros e quase sem mobília. Um homem dedicado a testemunhar as atrocidades cometidas contra a Humanidade pelos poderosos banqueiros, politicos, empresários e sacerdotes, através da divulgação desse testemunho, em letra impressa por ele próprio no seu apartamento. Um soldado ao serviço da liberdade, e não de algum exército, que estivera em vários países a lutar pela justiça social, encabeçando várias revoluções, arriscando a vida por desconhecidos. Arriscando tudo pela liberdade. Falo de Zé Barembé, como todos os anarquistas um radical (que, se ainda por cá andasse, teria concerteza apertado o pescoço traiçoeiro de Durão Barroso por ter vendido o seu pais), mas , nem por sombras um idiota. Longe estava eu de imaginar que estava a falar com o último português (sim, Pessoa estava enganado quando disse que não havia portugueses desde o Renascimento).
Isto tudo para chegar a um assunto que não parou de me moer o juízo o dia todo, que é aquela previsão que diz que em 2060, ou seja em 40 e poucos anos, 22% da população portuguesa terá desaparecido. Ora, mas que raio é que se poderá passar para acontecer tal desgraça? Um surto de alguma fulminante epidemia, uma guerra mundial, uma invasão extraterrestre? Mas isso são tudo coisas que não se conseguem prever, por isso suponho que não contem para cálculos estatisticos. Então mas afinal que força sobrenatural faria reduzir tão drasticamente a população de um país? Um pequeno país, é preciso relembrar, com recursos para sobreviver sem se prestar a indecorosas vassalagens a elites mal intencionadas.
Seria necessário uma espécie de genocídio económico, sem aspas, um empobrecimento forçado. Não é preciso ser-se economista para perceber que nos últimos 50 anos, não só aqui mas um pouco por todo o Mundo, os preços dos bens não pararam de aumentar. Temos o exemplo do vulgar cafézinho, que há poucos anos custava 25 cêntimos e agora mais do dobro.
E quem é que não se lembra de ouvir os pais e avós contarem histórias em que tudo se pagava com tostões? O mesmo se passará connosco e os nossos filhos porque há aqui um padrão inflacionista, que é como uma corda no nosso pescoço que aperta a cada dia que passa em conjunto com cada vez mais impostos para pagar.
Ambos estes fenómenos (inflação e impostos), são artificialmente manipulados pelos Bancos Centrais ao imprimirem moeda sem garantia ( o valor do dinheiro é indexado ao ouro e nem o Sapo Cocas me faria acreditar que existem reservas de ouro para sustentar todo o dinheiro colocado em circulação) e ao emprestarem em maciças doses a Governos (claramente corruptos) que acabam por sobrecarregar os seus cidadãos com taxas para poderem pagar esses empréstimos.
Ora este genocídio terá responsáveis, uma vez que não é fruto do acaso e não se tratam propriamente de causas naturais as que referi. Tem caras e nomes para as acompanhar. Os constantes recados do FMI, da Comissão Europeia e de Angela Merkel (que eu não me lembro de ter visto no boletim de voto) são mais do que prova do assédio, do bullying econoclasta se quiserem, para sermos mais internacionais e globalizados.
E já agora, porque isto me está atravessado desde esta manhã, por falar em globalização, a única globalização que se concretizou foi a financeira, com fronteiras abertas para as grandes empresas aniquilarem a concorrência (comprando-a) e deslocarem os seus meios de produção para países onde se possam aproveitar das escassas leis e de autoridades corruptas para aumentarem os seus lucros. Contribuindo para a degradação das condições de trabalho e consequentemente do próprio valor do trabalho, fazendo com que, por exemplo em Portugal, os salários se mantenham em valores historicamente baixos e obrigando as populações a imigrarem para países mais ricos, perdendo-se assim o investimento feito pelos países de origem na formação dos seus cidadãos.
Causa-me alguma estranheza não termos ainda conseguido globalizar o bom senso, a hombridade ou a justiça, mas com extrema eficiência e facilidade (num Mundo em que é tudo tão difícil, basta ir a uma repartição pública tratar de qualquer assunto para perceber isto) tenhamos criado impérios financeiros que se estendem por todo o Mundo, detentores de fortunas certamente globalizantes.