domingo, 30 de novembro de 2014

Isto quer é carinho

O tema dominante da semana passada foi, como não poderia deixar de ser, a detenção do Engenheiro Sócrates por suspeita de fraude fiscal e corrupção (inacreditável não é?). Entre cozidos à portuguesa e literatura francesa ficámos a saber que Mário Soares é como um segundo pai para o Doutor Sócas,  como é conhecido por uma larga franja da população, e que está disposto a fazer as mais tristes figuras para mostrar a sua indignação. Verdade seja dita que apanharam o homem na hora da sesta e por isso estava um pouco resmungão à conta da birra.
Voltando ao Sócras, e isto é informação isenta e de fontes fidedignas, parece que acumulou cerca de 20 milhões de Euros a desenhar marquises e anexos por toda a cidade da Guarda, só que guardou o dinheiro num banco na Suíça,  porque, como toda a gente sabe, os suíços são uns gajos sérios em quem se pode confiar para guardarem segredo sobre dinheiro legitimamente auferido, o que é extremamente necessário para que ninguém descubra que ganhamos dinheiro honestamente. Não quer dizer que em Portugal os bancos não sejam igualmente sérios, os suíços dobram é as notas como ninguém porque são muito arrumadinhos e essa é a principal razão porque muita gente os prefere.
Ora o Engenheiro deve estar fulo da vida porque é preciso muito azar para se ser o único ex Primeiro Ministro a ser apanhado em "esquemas" cá pelo burgo. Afinal quais serão as probabilidades de um político ser chamado à Justiça? Mais ou menos as mesmas que eu tenho de acertar no Euromilhões.
Cá para mim eles sentaram-se todos a uma mesa, com o Salgado à cabeceira e disseram: Bem, isto está a rebentar por todos os lados.  É Tecnoformas,  é submarinos,  é Vistos Gold,  é 8 mil milhões de dívida do BES. Alguém vai ter que se sacrificar,  e todos logo a olhar para o Sócrates com cara de aliviados. Claro que ele, com a sua reconhecida capacidade de dar a volta a situações adversas, ainda conseguiu convencê-los a tirarem à sorte,  mas apenas para acabar por lhe sair o palito mais pequeno.
No meio do corropio de visitantes destacou-se, além do Doutor Soares pelas já referidas razões,  uma anónima senhora que pretendia apenas levar um pouco de carinho ao Engenheiro porque, segundo ela, todos precisamos de carinho. Infelizmente não deixaram a senhora entrar, o que a deixou muito desiludida, mas eu acho que ela não tem com que se preocupar porque o Carlão é homenzinho para fazer um cafuné no Sócas quando estiverem os dois a fazer conchinha antes de dormir.

sábado, 29 de novembro de 2014

Escuta só - rubrica cultural

Já agora para quem não conhece experimentem o álbum S.C.I.E.N.C.E. de Incubus, para mim um dos poucos álbuns, de qualquer banda,  que se pode ouvir do princípio ao fim e estar sempre na ponta dos sentidos, com os ouvidos em alerta para tudo o que estes senhores conseguem fazer. Infelizmente têm andado distraídos nos últimos tempos os membros da banda de Brandon Boyd,  mas este magistral disco já ninguém lhes tira. 

Põe os olhos nisto - rubrica cultural

À luz dos recentes acontecimentos de Ferguson, Estados Unidos,  deixo duas sugestões de filmes sobre a temática da tensão nas relações interraciais, o abuso de autoridade e a brutalidade policial. Ambos com cerca de 20 anos mas assustadoramente actuais. Muito bem realizados e acompanhados por bandas sonoras do mesmo calibre.

Do the right thing (faz a cena certa 1989) Spike Lee realiza e interpreta o papel de Mookie, um entregador de pizzas num bairro dos subúrbios de Nova Iorque em que a temperatura vai aumentar, e não só por conta do sufocante calor no dia mais quente daquele Verão. Uma visão realista, sem maquilhagem, da realidade norte americana. Com John Turturro, Ruby Dee, Danny Aiello e Samuel L.Jackson.

La haine (o ódio 1995) Um filme de Mathieu Kassovitz que retrata a noite de três jovens amigos de um bairro de emigrantes, maioritariamente árabes, e as provações e obstáculos que se colocam a estes putos suburbanos a toda a hora. Um pungente olhar sobre a fragilidade da razão e as raízes do preconceito.
Com Vicent Cassel,  Said Taghmaoui, Hubert Koundé, entre outros.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Então é assim...

Isto não está para mártires. E muito menos para falíveis líderes com pés de barro.
Sendo assim, o associativismo pode ser uma das soluções,  em conjunto com outras, para a atual situação de crise (financeira mas acima de tudo moral) que enfrentamos.
Associações que controlem os municípios,  evitando o despesismo dos concursos públicos para aquisição de bens e serviços (nada públicos como eu já tive oportunidade de testemunhar pessoalmente), acabando com o compadrio e o amiguismo e por consequência com os gastos supérfluos e os negócios fraudulentos.
Associações de consumidores que negoceiem diretamente com associações de produtores, eliminando as astronómicas margens de lucro que apenas servem os intermediários e prejudicam todos os outros (vulgo lucros para Belmiros), baixando assim o preço dos produtos para o consumidor e aumentando os dividendos para o produtor (do pescador ao agricultor, tantas vezes obrigados a vender por preços irrisórios e a ver os preços aumentar até dez vezes mais nos escaparates dos hipermercados) de uma cajadada só.
Associações de trabalhadores que defendam realmente os seus interesses (alguns dirão que temos sindicatos para isso mas eu diria que basicamente não funcionam, estão demasiado moldados e desgastados pelo sistema), que discutam afincadamente com o patronato melhores condições laborais, sem concessões nem recuos.
Associações de cidadãos que vigiem os políticos, que eu penso serem a porta para a corrupção e por isso dispensáveis mas, a existirem, que sejam muito mais escrutinados e mantidos debaixo de olho.  O que se torna mais eficaz se for feito a nível local. Que se mantenham atentas aos bancos, à CMVM, à ERC e a todos os supervisores que nada supervisionaram até hoje. Até porque não me parece grande ideia os bancos, por exemplo, serem supervisionados por banqueiros (BdP, BCE, etc.). Que negoceiem a dívida com o FMI, devidamente descontando as falcatruas que levaram aos alarmantes números da dívida pública (facilitação de empréstimos,  especulação financeira e imobiliária, manipulação dos mercados, etc.).
Tudo organizado localmente por quem conhece a realidade e as necessidades locais e não centralizado em Lisboa ou em Bruxelas.
Obviamente isto é complicado de gerir, é preciso dispensar tempo para estar presente e atento. E eu bem sei que por vezes nem paciência há para ir a uma simples reunião de condomínio,  mas todo este descalabro que temos hoje, a corrupção que já nem se disfarça, a injustiça social, a perda de qualidade de vida no fundo, tudo isto é fruto de termos relaxado e delegado funções essenciais à nossa existência (com dignidade e acima de tudo felicidade que é um direito de todos nós) a pessoas que não nos representam.  E como poderiam? Poderá um senhor que vem da Guarda saber o que é melhor para Armação de Pêra? Vindo de uma cidade na Beira interior o que poderá ele saber sobre uma vila piscatória no Algarve? E o que raio é que Angela Merkel poderá fazer por nós,  para além de tentar tornar-nos em mini alemães?  Mas com menos licenciaturas obviamente.
Por isso, a modos que o que eu penso é que o tempo dos mártires já passou e temos de nos mexer, em conjunto, mas cada um por si próprio,  pelas suas próprias razões. Caso contrário ficamos na mesma,  ou pior. Boa noite e obrigado. 

p.s.- Ó Xyco anda cá contribuir com a tua verdade que isto assim fica muito unilateral.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Pedro e o lobo

Os políticos não são todos iguais?
Já não se trata de uma afirmação mas sim de uma questão. Legitimada, até prova em contrário, por factos que se repetem vezes demais, e cada vez mais. Que se tornam cada vez menos esporádicos e mais sintomáticos, por consequência mais dificéis de ignorar.
Mas, para não variar, foi recentemente proferida esta barbaridade por um dos nossos mais altos representantes, aquando da detenção de José Sócrates. Quem mais senão o Exmo. e Valiosíssimo Dr. Pedro Passos Coelho, que já nos tem habituado a estas pérolas de sabedoria vindas do alto da sua inabalável idoneidade.
Um senhor cuja palavra tem menos valor do que um post neste humilde mas sincero blog. Um político que ludibriou os seus eleitores com inverdades e inconseguimentos, e continua a fazê-lo de cada vez que não consegue enfrentar-nos nos olhos e dizer-nos que está do lado daqueles que corrompem o país em busca de mais e maior lucro para as suas fortunas privadas e não do nosso lado. Que é o das famílias carenciadas, do crescente número de desempregados (digam as "estatísticas" o que disserem), do país onde uma em cada três crianças está em risco de pobreza.
E o que fica do esforço deste Governo? Nada de muito diferente. Uns submarinos alemães que estavam prontinhos para ser desmantelados mas que adquirimos, em mais um processo fraudulento (certamente uma fraude desigual executada por políticos desiguais), por uma quantia exorbitante, muito acima do valor das duas latas velhas. A queda do BES? Poucos dias após uma operação de capitalização que lesou milhares de pequenos acionistas, impelidos a investir pelas reconfortantes palavras do BdP e do próprio Exmo. e Reafirmadíssimo Dr. Aníbal Cavaco Silva, entre outros que afirmaram que o banco estava sólido, enquanto os grandes acionistas eram avisados para a eminente queda do mesmíssimo banco. Se isto tiver outro nome que não fraude agradeço que me informem para eu trocar de dicionário. Ou os Vistos Gold? Uma medida sem pés nem cabeça, profundamente racista na minha humilde opinião, que apenas serviu para aquilo que foi criada, agilizar a corrupção instituída no sector imobiliário. Uma área que pouco contribui para a criação de postos de trabalho e em que os galáticos lucros são divididos entre dois ou três intervenientes e pouco mais, só se for em almoços que dinamizem a economia local.
Realmente os políticos não são todos iguais. Mesmo quando pensamos que já ouvimos de tudo há sempre um que vem e nos surpreende. Neste caso de PC pela inquestionável lata.
Ouvimos também recentemente alguém dizer que se acabou a impunidade. Para quem? A não ser que já tenham conseguido provar a inocência do Dr. Ricardo Salgado e eu não estivesse atento. Ou vai na volta nem sequer cometeu qualquer tipo de crime e é normal desaparecerem 3.6 mil milhões sem ninguém reparar, entre outras coisas. É possível que seja apenas o meu iletrado cérebro a fazer confusão, mas entretanto vou esperar para ver o desfecho deste caso de importância vital para muitos outros que se adivinham, se a impunidade realmente terminou.
O melhor é esperar sentado porque isto é capaz de demorar um bocadinho até chegar aos outros políticos, os que não são iguais.


domingo, 23 de novembro de 2014

Só para te calar a boca - espaço culinário

Tarte de natas e suspiros saídos do forno

E o Salgado é para quando?

No passado Sábado o país acordou alvoroçado com a notícia da detenção aparatosa de um famoso emigrante à sua chegada ao aeroporto à meia noite de sexta feira.
Numa espécie de Casa dos Segredos ao mais alto nível houve câmaras apontadas para carros em movimento e portas entreabertas, na esperança de captar a silhueta do dito, ou uma orelha, ou o nariz, ou um fio de cabelo do mesmo.
Não que eu seja um apoiante de José Sócrates, pelo contrário, até sou daqueles que não está espantado com a sua detenção mas, sou pela presunção de inocência até prova em contrário de qualquer cidadão  que seja detido, neste ou noutro país. E ainda mais sou pelo direito à privacidade, que muito menos deveria ser ignorado por funcionários da Justiça que convidam repórteres para assistirem a detenções, como foi o caso.
Ora o sujeito foi detido e logo julgado e sentenciado, sem direito a julgamento, ao vivo e em directo graças às câmaras das televisões e aos jornalistas que se prestaram mais uma vez a denegrir a já de si fragilizada imagem do jornalismo em Portugal. Será que um jornalista não pode recusar-se a fazer um trabalho que vá contra o seu código deontológico? Se isso é coisa que ainda exista porque, para mim, os atropelos são constantes e o jornalismo no nosso país virou um circo, sem desprimor para com as artes circenses. E isso preocupa-me muito mais do que políticos corruptos ou banqueiros mafiosos, porque esse sim é um sinal da total e irreversível perda de todos os valores que regem uma democracia. O jornalista é a última barreira entre o povo e o seu opressor, é o polícia dos polícias por assim dizer, é ele que vigia com olhar acutilante os irresponsáveis tratados que se negoceiam nas nossas costas. É ele que denuncia, por sua conta e risco, as secretas negociatas das elites. O último bastião da liberdade pensando bem, coisa séria portanto, que não devia ser levada com esta leveza de reality show. Numa altura em que cada vez mais jornalistas perdem o seu posto de trabalho isto leva-me a pensar se a selecção estará a ser feita da melhor maneira, e por quem.
Dito isto espero que continuem as investigações e detenções, mais discretas obviamente, e que depois de todo o circo haja condenações para acompanhar e não ser apenas mais do mesmo, fumo e espelhos. Por falar nisso onde é que anda o outro que queria pôr o Moedas a funcionar?

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Esqueçam o copo

O copo esteve, está e estará sempre meio cheio. Não passa de uma diversão, luzinhas a piscar para distrair do que importa, que é o que raio poderemos fazer com o copo? E de preferência antes que ele desapareça.  Por isso e apesar dos apesares,  por aqui continuarei a teclar nas mesmas teclas, teimando em teimar. Não porque veja tudo negro, mas precisamente pelo contrário. Já senti na pele oceanos de emoções,  tempestades de sensações, abocanhei o traseiro da vida, finquei os dentes e deixei-me levar no turbilhão, sem travões, nem polícias,  nem barreiras para me atrasar. E me perdi, e me apaixonei sem regresso pelo chão que piso, pela Terra que me acolhe, pela Lua que me embala em sonhos que valem pela vida. Sonhos como todos os sonhos, de liberdade sem fim. Que me perseguem quando estou acordado, entre as anestesias, e não consigo olhar para o lado e ver só o arco íris, e ainda menos desligar-me da corrente.

domingo, 16 de novembro de 2014

Que seca de corrupção

Isto assim  já nem tem piada nenhuma, o Governo de Passos Coelho começa a perder o efeito surpresa. É preciso inovar nas trapalhadas, apostar em gente nova, com a mesma apetência para a corrupção e queda para a incompetência, mas que ao menos a gente não conheça, só para quebrar a monotonia.
Pois bem, esta semana foram os Vistos Gold que deitaram por terra mais uns quantos que andavam a encher os bolsos à conta do erário público. Rebentou para todos os lados o escândalo, director nacional do SEF, secretária geral do MJ, presidente do Instituto dos Registos e Notariado, tudo gente séria portanto.
Isto foi, obviamente, uma notícia que apanhou desprevenidos muitos portugueses, porque claramente tinha tudo para dar certo esta exponencial ideia do Vice PM, o irrevogável Paulo Portas.
Senão vejamos, que outro sector fundamental para o país precisaria tanto de incentivos como o imobiliário (de luxo)? Que, como todos sabemos, é onde se encontra o grosso da massa salarial dos portugueses. Além disso já não é de hoje que tudo o que são renegados, mafiosos, corruptos, ditadores expatriados,  etc. escolhem o nosso solarengo país para gozarem as suas merecidas reformas. Sendo assim, parece-me apenas natural aproveitar para lhes sacar algum do dinheiro que angariaram com as suas desonestas actividades, já diz o ditado.
O que é que interessa se são assassinos, ou traficantes de escravos, não nos vamos agora estar a prender com pormenores de somenos importância. Para mim é coisa para me encher de orgulho, sinto-me quase um holandês ou um cidadão de qualquer outro desses países governados por piratas, outro pequeno pormenor, topo de gama da Europa é preciso lembrar. Porque se há coisa em que a Europa está unida é nisto da corrupção, não há fronteiras para a instituída rebaldaria, o que é normal porque o dinheiro não tem bandeira, ou cor, ou religião.
Queres ver que foi desta que o Passos Coelho se demitiu? Não? Ok, então demitiu alguém,  de certeza absoluta. Nem por isso, até houve um Ministro, que é socio de um dos envolvidos, que apresentou a demissão,  mas o PM não aceitou. Faz sentido, o Passos deve andar a beber da mesma água que o Marques Mendes e passa-lhe tudo à frente do nariz mas ele não dá por nada, ou então passa-se tudo nas suas costas, e aí a conclusão é que juntando estes dois a Cavaco ficamos basicamente com três pisa papeis, ou dois pisa papeis e um bibelot. Caríssimos diga-se de passagem. 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Um pequeno aparte

Nenhum sorriso ficará sem retribuição da parte deste que vos escreve,  nem deixará de ser oferecido pelo próprio, em nenhuma situação, a quem o mereça e/ou precise.
Dito isto, não há cu para intrujas, aldrabões, fala baratos e outros que tais, vindos de que quadrante for, político,  geofísico, social, biológico, morfológico, antropomórfico, etc., etc.
Quem quiser ser respeitado tem bom remédio,  é dar-se ao respeito.  Aqui não somos degraus para ninguém, e quem quiser subir que venha preparado para se estatelar no chão. Boa noite e obrigado.

sábado, 8 de novembro de 2014

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O último português e a globalização da apatia

nota introdutória (uau): não se oferecem soluções, apesar de por vezes a solução estar na não repetição de um erro. apenas testemunhos  e pensamentos na primeira pessoa. quem procura direções é comprar um gps ou ir ao google maps.


Aos 37 anos estava perfeitamente acomodado, moldado ao meu sofá e acoplado ao comando da televisão.  Feliz com o emprego em que quase pago para trabalhar mas mesmo assim é melhor do que estar desempregado. A chama insubmissa e revolucionária da adolescência deixei-a numa gaveta distante fechada a sete chaves, todas elas atiradas para bem longe junto com todas as questões sem resposta que apenas perturbam o meu bem estar e me impedem de curtir os meus dois dias sem grandes chatices e inconvenientes. Como pensar, questionar,  agir e todas essas coisas que se metem no caminho da minha diversão. Lutar pela vida pode ser muito bonito mas traz dores nas costas, rugas, inquietações e até rasgos de loucura por vezes. Ainda para mais quando temos de trabalhar ao mesmo tempo. Resumindo,  um aborrecimento.
Nada que me interessasse, até há uns meses atrás em que a Sara decidiu acabar com o meu sossego,  liderando uma revolução contra o meu comodismo ao escolher nascer daqui a um par de meses. Fui assolado, em catadupa, por tudo o que me indignava neste desequilibrado Mundo. A gaveta arrombara-se a si própria, rendida às evidências. Se quisermos um futuro vamos ter de nos mexer no presente era a frase que ecoava na minha cabeça. Porque, afinal, teria eu mudado assim tanto nos meus ideais, ou teriam os motivos da minha revolta mudado nestes últimos vinte anos?  Na realidade nem uma coisa nem outra, continuo a acreditar que podemos fazer melhor e partilhar os recursos existentes e não açambarcá-los, e se algo mudou naquilo que me faz questionar foi para pior. Por isso não faz sentido deixar de ser quem sou porque eu sou o produto do meio que me rodeia.
Todo este processo de reconexão comigo próprio acabou por trazer-me a recordação de alguém com quem tive a honra de poder partilhar ideias pessoalmente algures nos meados dos anos 90, num 1° andar perto do Bairro Alto apinhado até ao tecto em livros e quase sem mobília. Um homem dedicado a testemunhar as atrocidades cometidas contra a Humanidade pelos poderosos banqueiros, politicos, empresários e sacerdotes, através da divulgação desse testemunho,  em letra impressa por ele próprio no seu apartamento. Um soldado ao serviço da liberdade, e não de algum exército,  que estivera em vários países a lutar pela justiça social, encabeçando várias revoluções, arriscando a vida por desconhecidos. Arriscando tudo pela liberdade. Falo de Zé Barembé, como todos os anarquistas um radical (que, se ainda por cá andasse, teria concerteza apertado o pescoço traiçoeiro de Durão Barroso por ter vendido o seu pais), mas , nem por sombras um idiota. Longe estava eu de imaginar que estava a falar com o último português (sim, Pessoa estava enganado quando disse que não havia portugueses desde o Renascimento).
Isto tudo para chegar a um assunto que não parou de me moer o juízo o dia todo,  que é aquela previsão que diz que em 2060, ou seja em 40 e poucos anos, 22% da população portuguesa terá desaparecido. Ora, mas que raio é que se poderá passar para acontecer tal desgraça? Um surto de alguma fulminante epidemia, uma guerra mundial, uma invasão extraterrestre? Mas isso são tudo coisas que não se conseguem prever, por isso suponho que não contem para cálculos estatisticos. Então mas afinal que força sobrenatural faria reduzir tão drasticamente a população de um país? Um pequeno país, é preciso relembrar, com recursos para sobreviver sem se prestar a indecorosas vassalagens a elites mal intencionadas.
Seria necessário uma espécie de genocídio económico,  sem aspas, um empobrecimento forçado. Não é preciso ser-se economista para perceber que nos últimos 50 anos,  não só aqui mas um pouco por todo o Mundo,  os preços dos bens não pararam de aumentar. Temos o exemplo do vulgar cafézinho, que há poucos anos custava 25 cêntimos e agora mais do dobro. 
E quem é que não se lembra de ouvir os pais e avós contarem histórias em que tudo se pagava com tostões? O mesmo se passará connosco e os nossos filhos porque há aqui um padrão inflacionista,  que é como uma corda no nosso pescoço que aperta a cada dia que passa em conjunto com cada vez mais impostos para pagar.
Ambos estes fenómenos (inflação e impostos), são artificialmente manipulados pelos Bancos Centrais ao imprimirem moeda sem garantia ( o valor do dinheiro é indexado ao ouro e nem o Sapo Cocas me faria acreditar que existem reservas de ouro para sustentar todo o dinheiro colocado em circulação) e ao emprestarem em maciças doses a Governos (claramente corruptos) que acabam por sobrecarregar os seus cidadãos com taxas para poderem pagar esses empréstimos.
Ora este genocídio terá responsáveis, uma vez que não é fruto do acaso e não se tratam propriamente de causas naturais as  que referi. Tem caras e nomes para as acompanhar.  Os constantes recados do FMI, da Comissão Europeia e de Angela Merkel (que eu não me lembro de ter visto no boletim de voto) são mais do que prova do assédio, do bullying econoclasta se quiserem, para sermos mais internacionais e globalizados.
E já agora, porque isto me está atravessado desde esta manhã, por falar em globalização,  a única globalização que se concretizou foi a financeira, com fronteiras abertas para as grandes empresas aniquilarem a concorrência (comprando-a) e deslocarem os seus meios de produção para países onde se possam aproveitar das escassas leis e de autoridades corruptas para aumentarem os seus lucros. Contribuindo para a degradação das condições de trabalho e consequentemente do próprio valor do trabalho, fazendo com que, por exemplo em Portugal,  os salários se mantenham em valores historicamente baixos e obrigando as populações a imigrarem para países mais ricos,  perdendo-se assim o investimento feito pelos países de origem na formação dos seus cidadãos.
Causa-me alguma estranheza não termos ainda conseguido  globalizar o bom senso, a hombridade ou a justiça, mas com extrema eficiência e facilidade (num Mundo em que é tudo tão difícil, basta ir a uma repartição pública tratar de qualquer assunto para perceber isto) tenhamos criado impérios financeiros que se estendem por todo o Mundo, detentores de fortunas certamente globalizantes.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O Mundo não precisa de uma revolução mas sim de um novo Big Bang

Quantos triliões terão sido já investidos na indústria aeroespacial? Podemos focar-nos só nos EUA. Seriam suficientes para criar e desenvolver mecanismos que garantissem a distribuição de água potável nos países do "terceiro mundo"? Não faço ideia, mas uma coisa eu sei, existe um "terceiro mundo", algo que me afecta os dois solitários neurónios de sobremaneira porque o Mundo é só um e custa-me a entender os parâmetros e as bitolas por onde nos guiamos para definir e distinguir primeiro-mundistas e terceiro-mundistas. E ainda mais me custa entender como algures pelo caminho deixámos uma parte do Mundo para trás, ou permitimos que outras seguissem em frente, sem equilibrar a balança.
Quantos cientistas hoje em dia dedicam tempo e recursos a futilidades como é o exemplo da medicina estética? Quantos dos recursos, humanos e não só,  são desviados de áreas em que são realmente necessários? 
Pois bem, são tudo perguntas paras as quais não tenho respostas, porque faço parte daquele grupo de pessoas que critica a situação actual, mas sem oferecer soluções. E isto parece que resume esta cambada de preguiçosos que não encontra uma solução para a embrulhada em que quem nos acusa de não a encontrar nos meteu. Acontece que o que foi criado ao longo de centenas de anos foi um sistema de interdependência entre os poderosos, uma teia tão apertada que se tornaram viciados em favores, e  obviamente em poder, e agora não conseguem, nem querem, abdicar dos padrões de vida que alcançaram com este desequilíbrio. A única solução,  a meu ver e para começar é não lhes seguir os passos. É não apostar em sistemas que comprovadamente não funcionam e cortar pela raíz com as oligarquias e os 1% que detêm 50% da riqueza mundial.
A solução é, basicamente,  fazer diferente do que se fez até agora.

domingo, 2 de novembro de 2014

Patética e preguiçosa sabotagem

Mais uma semana plena de aventuras para Passos Coelho e sus muchachos, uma trupe cada vez mais hilariante, que aconselho vivamente a seguirem. A empurrar culpas revelam-se bem mais eficientes e expeditos do que a fazer aquela coisa, que me falha agora o nome. Aquilo em que pomos o boletim de voto numa urna para escolher quem queremos que comande os destinos do país e quem acumula mais votos tem de...Não está fácil de sair o raio da palavra, deve ser da falta de hábito, um dos poucos senãos de se ser português. Governar era isso. Tomar decisões, fundamentadas e consequentes, que defendam os interesses dos cidadãos acima de quaisquer outros, que propelem o desenvolvimento do país mesmo contra interesses corporativos, especialmente contra estes, venham eles de onde vierem. Que não vendam a sua produtividade, que são as pessoas, ao desbarato, desvalorizando perigosamente o valor do trabalho, e muitas vezes retirando os custos de produção e operação do lado das empresas e colocando-os do lado dos trabalhadores, chamando a isto competitividade e vangloriando-se de ter um país que explora os seus trabalhadores a um nível próximo da infame escravatura, como fez Pires de Lima, para mim o muchacho de ouro desta semana, no México. O rol de alarvidades que foi sendo vomitado ao longo do seu discurso só foi suplantado pelo facto de o mesmo discurso se ter baseado em dados que nem sequer existiam, uma vez que Portugal teria descido dois lugares no tal ranking da produtividade que tanto adora (impostos menores para empresas, facilidade de despedimentos, redução das respectivas indemnizações em caso de despedimento) e não o contrário como advogava o ministro.
Mas não foi fácil atribuir o galardão de muchacho de ouro. Esta semana, tal como em todas as outras aliás,  a concorrência foi feroz e houve vários ministros a lutar por uma posição na frente. No MEC continuam a rolar cabeças,  todas menos a essencial claro, que isso seria fazer o que está correcto e assumir o colossal erro, e aí deixaria de ser política para passar a ser integridade,  que é coisa que, como é sabido, só atrapalha os futuros gestores e supervisores das super empresas que polulam por este país. Na Justiça a arrogância e a falta de vergonha foram as armas escolhidas, descobriram-se convenientemente os culpados por uma grosseira sabotagem, que visava tão somente prejudicar a periclitante imagem de uma ministra que não fazia ideia de como se processava uma reforma a que ela própria se propôs, que deveria supervisionar e acompanhar em todas as fases do processo, para o qual delineou um prazo de execução, que terá sido cumprido sob pressão pelos seus subordinados, como tantas vezes acontece, dando origem a falhas graves que prejudicaram o normal funcionamento do sistema judicial,  que já de si é lento e demorado por cá.
A culpa foi dos técnicos,  o que vale é que os técnicos tem as costas largas em Portugal. Morrem uns quantos numa unidade de hemodiálise no hospital, culpa-se o eletricista. Um estádio de futebol fica às escuras durante a celebração da equipa adversária,  quem mais senão o eletricista poderia ter feito tal coisa?  Os técnicos devem ser,  na realidade, os únicos neste bem fadado mundo que não têm de seguir ordens dos seus superiores, que podem mandar à fava os seus chefes e fazer o que bem entenderem. Ou então não e  a maior parte das vezes são os técnicos que avisam os seus superiores para a impossibilidade de cumprir um prazo ou para a inexequibilidade de um projecto e são ignorados grosseiramente,  levando a trapalhadas como a do Citius.
Quem se exibiu em todo o seu esplendor foi o nosso Primeiro Ministro,  mostrando uma veia cómica que eu lhe desconhecia, querendo levar-nos a crer que acredita realmente que, ao contrário do que dizem os preguiçosos e patéticos comentadores e jornalistas da nossa praça, estamos hoje melhor do que há três anos atrás e que nos espera um futuro radiante, conforme se pode comprovar com gráficos e estatísticas que ninguém vê porque são todos uma cambada de idiotas. Claro que ele não nos chamou idiotas a todos (ainda), apenas patéticos e preguiçosos.