domingo, 1 de março de 2015

Não se pode perder o que nunca se teve

No caso do excelentíssimo senhor doutor primeiro ministro Pedro Passos Coelho a dignidade, que nunca foi sequer beliscada (porque certamente não existe) pelas imposições  da troika, e a vergonha.
Há quem fique marreco de tanto trabalhar e quem o fique de tanto se curvar para lamber botas.
Então não é que o senhor "temos-que-pagar-custe-o-que-custar" decidiu não pagar deliberadamente à segurança social e, mais grave ainda, nem sequer foi notificado, como acontece com tantos outros portugueses, certamente sem filiação partidária. Como é aliás o meu caso, desempregado e tantas vezes mal empregado (raios que se me está a fugir a caneta para a dignidade, mas isto já me passa), que recentemente fui notificado pela S.S. para devolver um mês de subsídio de desemprego recebido por engano, num processo mediado (com extrema competência certamente) pelo IEFP em que fui selecionado para estágio (com 37 anos de vida e 7 como profissional na minha área) numa empresa de telecomunicações. Estágio esse mal pago e com prazo de validade, como se sabe. Convém ressalvar a eficácia e celeridade com que esta notificação me chegou, em menos de um mês com ameaça de execução fiscal e tudo. Além disso fui recentemente informado da obrigação de comparecer em ações de formação em horário pós-laboral. Ora eu, técnico de telecomunicações e às vezes jardineiro, posso optar entre coisas tão diversas como técnico de frio, rendas de bilros (infelizmente acho que este não me foi proposto), recepcionista de hotel, pastelaria. Ou inglês,  quando domino a língua inglesa melhor do que a maior parte dos formadores (lá me está a caneta a deslizar para a dignidade). Poderia um cidadão trabalhador, que cumpre as suas obrigações para com o estado, pai há coisa de dois meses, ser ainda mais humilhado? Dêem-me corda que eu bato palminhas e dou cambalhotas por 600 euros ao mês.
Bem, voltando ao Pedro "temos-que-honrar-os-compromissos" Coelho acresce á displicência com que contornou as suas obrigações o facto de todos os cargos de direcção nos centros de segurança social estarem entregues a militantes do mesmo partido do doutor "os-políticos-não-são-todos-iguais". Coincidências (ver  isto). Para elevar a trapalhada a patamares ainda mais altos de ridícula e afrontosa prepotência apareceu o próprio do ministro da (in)segurança social a desacreditar completamente todos os funcionários do seu ministério apenas para tentar salvar o chefe.
Nada disto é novo, e muito menos exclusivo do PSD. É o resultado de mais de quarenta anos de bipartidarismo (com o PP à boleia por vezes) oportunista e irresponsável. Um país desvalorizado de gente acomodada à humilhação.
Podemos continuar assim? Podemos. E vamos continuar assim? Claro que vamos, porque não se perde o que não se tem.


notazinha: eu não me importo que governem, decidam e essas outras coisas que os excelentíssimos senhores políticos fazem por mim, porque me facilita bastante a vida não ter de tomar decisões importantes. Digamos que a maior parte do meu tempo é dedicada a ser explorado por um patrão rico e o pouco que me sobra prefiro gastá-lo com coisas que não me aborreçam o juízo.

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